O que vi no São Paulo Boat Show
Por mais que o conceito de “novo luxo” esteja em alta, alguns setores ainda insistem em padrões ultrapassados de exclusividade. O São Paulo Boat Show 2025 é um exemplo claro disso: um evento que prometia democratizar o universo náutico, mas acabou criando barreiras invisíveis para quem queria apenas explorar, conhecer ou sonhar com esse estilo de vida.
Fui ao evento como jornalista, curioso pelas tendências, pelo público e, claro, pelos barcos. No entanto, o que encontrei foi um cenário onde a maioria dos barcos estava fechada ao público. Só tinha acesso quem já possuía algum “contato” ou parecia estar prestes a fechar negócio. Nem mesmo jornalistas especializados circulavam com liberdade, o que limitou a cobertura e a experiência.
O setor náutico sempre carregou um ar de exclusividade, mas o próprio Boat Show se propôs a mudar isso. Com ingressos a R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia) — preços acessíveis para um evento de luxo —, a proposta era atrair um público mais amplo. Mas, se você convida pessoas novas, precisa preparar os expositores para recebê-las com respeito, atenção e boa vontade.

Exposição é sobre mostrar atitude, não esconder o produto
Uma feira deve ser um espaço para exibir, não para restringir. Se a ideia era aproximar o universo náutico de quem sonha com esse estilo de vida, a mensagem transmitida foi: “Olhe, mas não encoste”.
Hoje, o luxo não se define apenas por preço, mas por experiência. E experiência está diretamente ligada a como você é tratado — mesmo que esteja ali apenas para olhar.
Exemplo de marcas que já entenderam o novo luxo
Basta circular por São Paulo para perceber a diferença. Já entrei em lojas de marcas premium, como a Porsche, apenas por curiosidade, e fui recebido com a mesma atenção que um cliente com cartão black. Em feiras de aviação, marcas como Embraer abrem as portas de seus jatos para visitantes que não estão nem perto de comprar, mas querem aprender, conversar e se conectar com o universo da marca.
O verdadeiro atendimento de luxo, hoje, é sobre receber bem qualquer pessoa — porque todos são uma ponte. Quem não compra agora pode indicar, voltar ou simplesmente falar bem da sua marca. Esse é o valor que se constrói com experiências positivas.
A Porsche, por exemplo, não pergunta quanto você ganha antes de te convidar para um evento. Ela cria experiências, aproxima as pessoas do universo da marca e planta o desejo — mesmo que a compra esteja distante. Esse é o tipo de conexão que faltou no Boat Show.
Quem só atende bem quem paga hoje, perde o cliente de amanhã
O São Paulo Boat Show 2025 tinha uma proposta promissora: tornar o setor náutico mais acessível. Porém, na execução, caiu em um modelo antigo de exclusividade que não dialoga com a nova geração de consumidores. Se a ideia era ser inclusivo, os barcos não poderiam estar fechados, e o atendimento precisava refletir o mesmo entusiasmo de quem pagou o ingresso com interesse genuíno.
Para o futuro, a lição é clara: luxo moderno é sobre abrir portas, criar conexões e inspirar. Feiras como essa têm o potencial de transformar curiosos em clientes, mas só se entenderem que o desejo começa muito antes da venda.
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