Assisti F1 numa segunda-feira fria, em uma sala quase vazia num shopping de São Paulo. O contraste entre a tela gigante cheia de carros rasgando curvas e o silêncio ao meu redor foi curioso — e, de certa forma, refletiu bem a sensação que o filme me deixou: barulhento por fora, um pouco vazio por dentro.

A trama gira em torno de um ex-piloto, interpretado por Brad Pitt, que está fora do cenário por motivos nada heróicos — apostas, problemas pessoais, passado mal resolvido. Após vencer as 24h de Daytona, ele é colocado de volta no radar da Fórmula 1. Uma equipe fictícia, em crise de patrocínio e performance, aposta no nome do veterano para tentar renascer.
A ideia é boa. O problema é a execução.
Pitt entrega um piloto de Hollywood, não de Interlagos. A atuação tem carisma, mas pouco peso. A relação com o companheiro de equipe jovem é previsível — a típica tensão entre gerações, com um tentando provar que ainda tem valor e o outro querendo conquistar o próprio espaço.

Por outro lado, F1 entrega algo que é raro e valioso: uma recriação extremamente competente da atmosfera dos paddocks, dos boxes, dos momentos de tensão que só quem acompanha a Fórmula 1 de verdade entende. A colaboração com a Fórmula 1 real faz toda a diferença. Equipes reais, pistas reais, e principalmente pilotos reais como Max Verstappen, Charles Leclerc, Lando Norris, e Carlos Sainz dividindo cena com os personagens fictícios — tudo isso dá um frescor inesperado e muito bem-vindo. Funciona. E muito.
A trilha sonora de Hans Zimmer é outro ponto alto. Ela acerta o ritmo das corridas, das ultrapassagens, dos acidentes — e até dos silêncios. Ele transforma a tensão dos treinos classificatórios das corridas e dos rádios de equipe em pura adrenalina cinematográfica.
Ainda assim, o roteiro é previsível e se apoia demais em clichês: a equipe em decadência, o mentor relutante, o talento rebelde que precisa amadurecer, o romance entre o piloto e a engenheira.
Há uma tentativa interessante de adicionar camadas ao drama com uma polêmica técnica envolvendo uma peça que melhora o desempenho do carro. É uma clara referência às controvérsias da vida real, e esse tipo de detalhe técnico ajuda a ancorar o filme no universo verdadeiro da Fórmula 1.
Se você ama Fórmula 1, vai se divertir. Vai reconhecer rostos, circuitos, sons e situações familiares. Mas vai sair do cinema pensando que, com tantas histórias reais incríveis que existem na F1, talvez fosse melhor ter contado uma delas.
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